domingo, 7 de setembro de 2025

se eu fosse mesmo especial, como você sempre disse,
então por que?

eu não entendo.

eu nunca fui especial, nunca fui digna da sua mudança, você nem mesmo enxergava o que fazia como algo errado... ou será que sim? eu não sei. mas eu sempre te ouvi, sempre acreditei em você, na sua mudança. e não foi uma única vez. me fiz de cega de propósito. me anulei. coisas que sentia, que me machucavam profundamente, e você sabia, mas ainda sim fazia, muito antes de eu cometer qualquer erro. 

e não vai ser agora que eu vou me tornar especial para você, não, essas coisas não acontecem de uma hora para outra. 

e ainda sim, eu escolho ficar.

e te dar
mais
uma
chance.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

forgive. hold on. ⁠♡

Lipstick on a pig.

Desde o início eu deixei claro. Disse a ele que não me sentia confortável em estar com alguém que consumisse esse tipo de conteúdo. Não foi algo escondido, sabe? nunca foi um limite não dito, não exposto. Eu falei, olhando nos olhos: não quero isso na minha relação. Não quero conviver com essa sombra. E acreditei que minhas palavras tinham sido ouvidas.

Um dia, no entanto, eu vi. Um detalhe, uma prova clara. E eu me fiz de cega. Me obriguei a engolir em seco e simplesmente fingi que não vi. Evitei mexer no celular, evitei olhar as conversas, com medo de encontrar mais. Preferi não saber, porque saber significava encarar. É o que dizem: o que os olhos não veem, o coração não sente. Mas eu já sentia, já sabia, só entrei em negação pois era mais fácil para meu psicológico no momento.

Meses depois, veio o peso maior. As pesquisas, os vídeos, os vários grupos, e ainda mais: conversas com os amigos dele, elogiando outros corpos, trocando comentários, normalizando aquilo que para mim sempre foi uma ferida aberta. E naquele momento, cada mentira que ele contou, crescendo como uma bola de neve, piorando a situação, tentando se justificar ecoou dentro de mim como uma confirmação: eu não era suficiente.

Foi assim que algo dentro de mim começou a se apagar. Sempre fui insegura demais, mas a partir dali, a insegurança se tornou um poço sem fundo. Eu sempre me maquiei demais, até dentro de casa, na tentativa desesperada de me sentir minimamente apresentável. Sempre busquei estar arrumada, perfumada, sempre tentei ser desejável. Lembro de tantas vezes em que me depilei inteira, em que me banhei com carinho especial, em que me insinuei… e fui rejeitada.

Quando descobri que tudo isso acontecia desde o começo da relação, tantas peças se encaixaram de forma cruel. As coisas fizeram sentido para mim: rejeições, olhares desviados, o silêncio. De repente, cada gesto meu parecia uma piada. Eu me senti grotesca, ridícula, substituível.

Me perguntava: "O que elas tem que eu não tenho?", mas a resposta vêm fácil: Simplesmente tudo. 

Meu corpo, que nunca gostei, se tornou uma evidência viva daquilo que nunca serei. Meu cabelo, com cor e corte irregular. Minha pele, cheia de cicatrizes, celulites, texturas estranhas e imperfeições. Meu rosto desproporcional. Minha falta de feminilidade. Apenas... Tudo.

Na minha mente, não há espaço para nada além da comparação. Os corpos extremamente perfeitos que vi, as mulheres que parecem existir em outro plano de beleza. Eu sei que nunca vou ser como elas. Nunca vou ter seus corpos, seus seios, seus rostos esculpidos. Nem mesmo com o maior dos esforços. E isso se repete na minha cabeça, como um refrão cruel: eu nunca vou ser o suficiente.

Hoje, olho para o espelho e a vontade é de destruí-lo, ou talvez de destruir o que vejo nele, a mim mesma. Apagar o reflexo que insiste em devolver uma imagem que odeio. Porque o que vejo não é apenas o meu corpo — é o peso de tudo que sinto.


sexta-feira, 8 de agosto de 2025

sem título.

4h40 — acordo, lavo o rosto, passo uma máscara de argila verde. bebo 500ml de água.
5h40 — 2½ bananas com creme de avelã. ( eram minúsculas.) + mais 500ml de água.
8h10 — yakult light + um pouco de pipoca.
10h10 — 2 carás sem miolo com peito de peru e maionese + metade de um pão de queijo grande com creme de avelã.
(o pão de queijo estava nojento. não consegui terminar.)
11h40 — um copo de água gelada.

você decide começar uma dieta, ou talvez só "voltar aos trilhos", seja lá o que isso significa. retornar a velhos padrões que nunca morrem de verdade — só hibernam dentro de você. às vezes isso dura dias. às vezes, só horas. difícil prever.

você torce para que funcione dessa vez. anseia.
porque está cansada de se odiar.
cansada de sentir falta de uma versão antiga de si mesma.
ou, pior ainda, de uma versão que talvez nunca tenha existido.

tic-tac. o tempo se arrasta.
segundos, minutos, horas.
quanto tempo vai durar?
“vou ser forte”, você diz para si mesma.
mas será?

meu copo de água ainda está aqui na minha frente, esquentando enquanto escrevo isso.

hoje vou no rodízio.

domingo, 8 de junho de 2025

♡ resenha: the chic diet

eu sempre fui mais ouvinte.

na maior parte das minhas conversas com as minhas poucas amigas, era eu quem ouvia — passivamente, mas nunca distraída. horas a fio, atenta a cada detalhe, cada suspiro.

The Chic Diet é exatamente isso: uma conversa íntima com uma amiga que fofoca com você sobre tudo que já ouviu falar de mais escandaloso que as pessoas fazem para emagrecer.

e acredite... as pessoas fazem coisas bem extremas.

com um sumário que inclui cigarros, coca-cola zero e até pílulas para dormir como itens “básicos”, este definitivamente não é um livro de autoajuda. (ou talvez seja… se você se odiar muito.) mas também não é uma dieta qualquer.

é uma leitura para quem já viveu de chá gelado, já chorou num provador de loja, e já fez promessas tipo “segunda eu começo” — sabendo muito bem que segunda nunca chega.

  contextualizando

The Chic Diet não tem autora conhecida no mainstream — ela assina como se fosse só mais uma das meninas magras que seguimos em segredo.
publicado de forma independente, o livro viralizou por ser “perigosamente hilário” entre fóruns, grupos fechados e perfis de estética underground no tumblr.

mais recentemente, em 2021, voltou à tona no twitter e no próprio tumblr, naquela comunidade que eu não vou nomear aqui (pelas diretrizes da plataforma, claro), mas que todas sabemos qual é.

e que você provavelmente também faz parte.

muitos acusam o livro de ser um convite ao adoecimento. e com razão.

mas quem lê esperando um guia clínico está no lugar errado. The Chic Diet é sobre estilo, sobre delírio coletivo, sobre a estética da fome adornada por um casaco de pelos da celine, emprestado da amiga que só almoça coca zero com cigarros.

⤷ doce e ácido

o livro é problemático.
o texto é carregado de sarcasmo e elegância, cheio de dicas e truques absurdos — alguns cômicos, outros... familiares até demais.

afinal, quem nunca substituiu a janta por água e chiclete sem açúcar?
quem nunca disfarçou autoflagelo com rotina de autocuidado?

"é uma dieta à base de suco verde detox", você conta pra sua prima, que escuta sem nenhum interesse enquanto quase aspira o milkshake de chocolate que segura. "vou fazer por uma semana, vi na tv que ajuda a emagrecer", você completa, e mentalmente só consegue pensar naquela merda daquele milkshake. o gosto do seu suco verde parece grama com terra, mas se isso vai te fazer magra, que valha o sacrifício.

é autocuidado, no final das contas. não é?

mas voltando —
o livro te guia por menus de desespero, dietas que parecem desafios de tiktok e outros absurdos.
tudo isso num tom amigável, doce, íntimo.

mas ele esconde navalhas entre as vírgulas. 

⤷  a mentalidade curiosa por trás de the chic diet

o mais intrigante não são as dietas bizarras ou os truques absurdos — é a forma como a autora transforma gestos simples em mantras secretos.

tomar água, por exemplo.
sim, água.
mas com gás, sempre.
segundo ela, é mais refinada, mais elegante, mais... correta. como se até a hidratação precisasse de uma curadoria estética.

mas the chic diet nunca foi só sobre emagrecer.
é sobre desaparecer com elegância.
é sobre caber.

em roupas, em lugares, em relações.
é sobre silenciar a fome e o volume.
não ser demais.

⤷ a estética da restrição

the chic diet também é um objeto estético.
posso dizer, sem exagero, que virou minha bíblia particular de leitura anual obrigatória.

dá vontade de sublinhar frases, copiar trechos em diários escondidos, montar uma moodboard inteira inspirada naquela estética que fingimos não conhecer — t*nsp*, você sabe.
e seguir todas as dicas, claro.
spoiler: não é exatamente a ideia mais saudável.

a forma como o livro trata o corpo é quase mística — não como carne, mas como conceito.
o corpo como performance. como arte.
o corpo como algo que se esculpe pelo vazio.
a fome, aqui, é o aplauso silencioso que vem quando você passa reto por um prato cheio... e não cede.

é cruel.
é belo.
é perigoso.

e, por algum motivo, ainda assim, eu volto.
eu volto porque, de algum jeito torto, ainda me vejo ali.

não é sobre querer ser magra. é sobre não saber ser outra coisa.


quinta-feira, 22 de maio de 2025

mais um dia, menos um quilo.

olá, como estão? resolvi aparecer por aqui um pouquinho e tirar um tempo para escrever.

eu tenho estado cansada.
não é um cansaço que se cura com sono, é mais como se eu tivesse se dissolvendo em névoa, aos poucos. talvez seja a medicação, talvez a falta de comida. ou talvez seja só eu mesma — um corpo tentando existir com o mínimo possível. às vezes sinto que vou desmaiar, mas logo lembro do número na balança e passa. 65 virou 62. e isso me basta. pouco a pouco estou voltando ao que era antes, isso me deixa contente.

o difícil é o resto. manter a casa, acompanhar as aulas, fingir presença.
minha cabeça está coberta por uma névoa espessa — a concentração equivalente a de uma porta, a memória péssima também. ainda assim, insisto: vou estudar. vou passar; sei que vou conseguir estudar e me sair bem nas últimas provas do semestre. (eu preciso).

minha rotina atual:
acordo sempre tarde, por culpa dos remédios.
vou direto ao banheiro, tiro a roupa, me peso (o número decide o tom do dia). só então bebo água — um litro inteiro, como se fosse sagrado — e engulo os comprimidos matinais: fluoxetina e topiramato.
volto para a cama, deixo o tempo me dissolver de novo: fico rolando feeds, fixando imagens no pinterest, me distraindo com a fome.

quando levanto, meu namorado chega.
ajudo no almoço. é só por volta das 13h que quebro o jejum.
geralmente faço 22h-23h de jejum por dia, com uma única refeição. sempre que possível, uma coca zero ao lado. 
de tarde, bebo mais água. faço algum esforço para me mexer — tarefas leves, movimentos lentos, exercícios tímidos na cama.
estou me recuperando ainda. de um episódio depressivo...de mim mesma.

às 17h começo a me arrumar para a faculdade.
preparo mais água (sempre 1L), deixo sobre a penteadeira junto do meu pod.

maquiar-se com as mãos trêmulas é uma pequena batalha diária, mas o delineador insiste em ser colocado, e o rímel também.
meu namorado me leva até a aula. (lá, se estou tonta, tomo outra cocaas aulas passam em velocidades absurdas: rápido demais quando estou aérea, devagar demais quando quero ir embora. não importa, nunca presto atenção. anoto só o suficiente para fingir que aprendi. depois estudo sozinha, com mais foco, menos ruído.

volto para casa e repito o ritual do fim do dia.
mais água. os remédios da noite: topiramato e levomepromazina.

deito e deixo o sono induzido pelos fármacos me levar — um sono vazio e incrivelmente doce.
o estômago está leve.
meu corpo, também.
é uma sensação de controle que eu conheço bem.
uma paz sem calor.
uma ausência que me abraça.

creio que por hoje seja apenas isso, até breve ౨ৎ