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domingo, 8 de junho de 2025

♡ resenha: the chic diet

eu sempre fui mais ouvinte.

na maior parte das minhas conversas com as minhas poucas amigas, era eu quem ouvia — passivamente, mas nunca distraída. horas a fio, atenta a cada detalhe, cada suspiro.

The Chic Diet é exatamente isso: uma conversa íntima com uma amiga que fofoca com você sobre tudo que já ouviu falar de mais escandaloso que as pessoas fazem para emagrecer.

e acredite... as pessoas fazem coisas bem extremas.

com um sumário que inclui cigarros, coca-cola zero e até pílulas para dormir como itens “básicos”, este definitivamente não é um livro de autoajuda. (ou talvez seja… se você se odiar muito.) mas também não é uma dieta qualquer.

é uma leitura para quem já viveu de chá gelado, já chorou num provador de loja, e já fez promessas tipo “segunda eu começo” — sabendo muito bem que segunda nunca chega.

  contextualizando

The Chic Diet não tem autora conhecida no mainstream — ela assina como se fosse só mais uma das meninas magras que seguimos em segredo.
publicado de forma independente, o livro viralizou por ser “perigosamente hilário” entre fóruns, grupos fechados e perfis de estética underground no tumblr.

mais recentemente, em 2021, voltou à tona no twitter e no próprio tumblr, naquela comunidade que eu não vou nomear aqui (pelas diretrizes da plataforma, claro), mas que todas sabemos qual é.

e que você provavelmente também faz parte.

muitos acusam o livro de ser um convite ao adoecimento. e com razão.

mas quem lê esperando um guia clínico está no lugar errado. The Chic Diet é sobre estilo, sobre delírio coletivo, sobre a estética da fome adornada por um casaco de pelos da celine, emprestado da amiga que só almoça coca zero com cigarros.

⤷ doce e ácido

o livro é problemático.
o texto é carregado de sarcasmo e elegância, cheio de dicas e truques absurdos — alguns cômicos, outros... familiares até demais.

afinal, quem nunca substituiu a janta por água e chiclete sem açúcar?
quem nunca disfarçou autoflagelo com rotina de autocuidado?

"é uma dieta à base de suco verde detox", você conta pra sua prima, que escuta sem nenhum interesse enquanto quase aspira o milkshake de chocolate que segura. "vou fazer por uma semana, vi na tv que ajuda a emagrecer", você completa, e mentalmente só consegue pensar naquela merda daquele milkshake. o gosto do seu suco verde parece grama com terra, mas se isso vai te fazer magra, que valha o sacrifício.

é autocuidado, no final das contas. não é?

mas voltando —
o livro te guia por menus de desespero, dietas que parecem desafios de tiktok e outros absurdos.
tudo isso num tom amigável, doce, íntimo.

mas ele esconde navalhas entre as vírgulas. 

⤷  a mentalidade curiosa por trás de the chic diet

o mais intrigante não são as dietas bizarras ou os truques absurdos — é a forma como a autora transforma gestos simples em mantras secretos.

tomar água, por exemplo.
sim, água.
mas com gás, sempre.
segundo ela, é mais refinada, mais elegante, mais... correta. como se até a hidratação precisasse de uma curadoria estética.

mas the chic diet nunca foi só sobre emagrecer.
é sobre desaparecer com elegância.
é sobre caber.

em roupas, em lugares, em relações.
é sobre silenciar a fome e o volume.
não ser demais.

⤷ a estética da restrição

the chic diet também é um objeto estético.
posso dizer, sem exagero, que virou minha bíblia particular de leitura anual obrigatória.

dá vontade de sublinhar frases, copiar trechos em diários escondidos, montar uma moodboard inteira inspirada naquela estética que fingimos não conhecer — t*nsp*, você sabe.
e seguir todas as dicas, claro.
spoiler: não é exatamente a ideia mais saudável.

a forma como o livro trata o corpo é quase mística — não como carne, mas como conceito.
o corpo como performance. como arte.
o corpo como algo que se esculpe pelo vazio.
a fome, aqui, é o aplauso silencioso que vem quando você passa reto por um prato cheio... e não cede.

é cruel.
é belo.
é perigoso.

e, por algum motivo, ainda assim, eu volto.
eu volto porque, de algum jeito torto, ainda me vejo ali.

não é sobre querer ser magra. é sobre não saber ser outra coisa.