Desde o início eu deixei claro. Disse a ele que não me sentia confortável em estar com alguém que consumisse esse tipo de conteúdo. Não foi algo escondido, sabe? nunca foi um limite não dito, não exposto. Eu falei, olhando nos olhos: não quero isso na minha relação. Não quero conviver com essa sombra. E acreditei que minhas palavras tinham sido ouvidas.
Um dia, no entanto, eu vi. Um detalhe, uma prova clara. E eu me fiz de cega. Me obriguei a engolir em seco e simplesmente fingi que não vi. Evitei mexer no celular, evitei olhar as conversas, com medo de encontrar mais. Preferi não saber, porque saber significava encarar. É o que dizem: o que os olhos não veem, o coração não sente. Mas eu já sentia, já sabia, só entrei em negação pois era mais fácil para meu psicológico no momento.
Meses depois, veio o peso maior. As pesquisas, os vídeos, os vários grupos, e ainda mais: conversas com os amigos dele, elogiando outros corpos, trocando comentários, normalizando aquilo que para mim sempre foi uma ferida aberta. E naquele momento, cada mentira que ele contou, crescendo como uma bola de neve, piorando a situação, tentando se justificar ecoou dentro de mim como uma confirmação: eu não era suficiente.
Foi assim que algo dentro de mim começou a se apagar. Sempre fui insegura demais, mas a partir dali, a insegurança se tornou um poço sem fundo. Eu sempre me maquiei demais, até dentro de casa, na tentativa desesperada de me sentir minimamente apresentável. Sempre busquei estar arrumada, perfumada, sempre tentei ser desejável. Lembro de tantas vezes em que me depilei inteira, em que me banhei com carinho especial, em que me insinuei… e fui rejeitada.
Quando descobri que tudo isso acontecia desde o começo da relação, tantas peças se encaixaram de forma cruel. As coisas fizeram sentido para mim: rejeições, olhares desviados, o silêncio. De repente, cada gesto meu parecia uma piada. Eu me senti grotesca, ridícula, substituível.
Me perguntava: "O que elas tem que eu não tenho?", mas a resposta vêm fácil: Simplesmente tudo.
Meu corpo, que nunca gostei, se tornou uma evidência viva daquilo que nunca serei. Meu cabelo, com cor e corte irregular. Minha pele, cheia de cicatrizes, celulites, texturas estranhas e imperfeições. Meu rosto desproporcional. Minha falta de feminilidade. Apenas... Tudo.
Na minha mente, não há espaço para nada além da comparação. Os corpos extremamente perfeitos que vi, as mulheres que parecem existir em outro plano de beleza. Eu sei que nunca vou ser como elas. Nunca vou ter seus corpos, seus seios, seus rostos esculpidos. Nem mesmo com o maior dos esforços. E isso se repete na minha cabeça, como um refrão cruel: eu nunca vou ser o suficiente.
Hoje, olho para o espelho e a vontade é de destruí-lo, ou talvez de destruir o que vejo nele, a mim mesma. Apagar o reflexo que insiste em devolver uma imagem que odeio. Porque o que vejo não é apenas o meu corpo — é o peso de tudo que sinto.
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